quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Inquisição: O Reinado do Medo - Toby Green

 

Inquisição: O Reinado do Medo é um trabalho de fôlego do jornalista e professor Toby Green sobre a perseguição religiosa institucionalizada por Espanha e Portugal em seus domínios, desses que se tornam referência para os interessados e estudiosos do tema. Durante quatro anos, o autor vasculhou alguns dos mais emblemáticos centros de memória e pesquisa do mundo - entre os quais os arquivos Secreto do Vaticano, o Geral das Índias e o Histórico Nacional, em Madri, as bibliotecas Britânica e a da Ajuda, em Lisboa, além do Museu do Prado. Ao proporcionar uma leitura ampla dos eventos e relatos estudados, Green remete-se a Freud ao apontar a neurose, a repressão e as distorções de sexualidade como causas principais das mortes e dos tormentos sofridos em nome da fé e de Deus. A Inquisição foi, por trezentos anos, a mais eficiente máquina burocrática de repressão do mundo que assombrou o imaginário coletivo com base na pedagogia do medo. Foi fruto mais de motivações políticas do que religiosas, sendo controlada pela coroa espanhola sem a interferência do papa. E resultou extremamente rentável para seus perpetuadores. O papado havia criado uma instituição semelhante no fim do século XII. Mas a reinvenção dos "reis católicos", estabelecida para varrer os hereges de seus domínios, serviu, sobretudo, para que Fernando de Aragão e Isabel de Castela assegurassem o controle do território espanhol, marcado pela convivência, no passado, entre cristãos, judeus e muçulmanos.

A Inquisição, estabelecida na Espanha, em 1478, e em Portugal, em 1536 – a instituição mais temida do mundo durante trezentos anos-, surgiu de preocupações políticas, não religiosas. O papado havia criado uma Inquisição no fim do século XII, mas a versão espanhola, criada supostamente para extirpar a heresia, serviu acima de tudo para que os “reis católicos” espanhóis Fernando de Aragão e Isabel de Castela impusessem uma hegemonia mono política na Espanha.
Ao criar um inimigo, fortalecia-se o poder central numa época de crescente ressentimento popular. Portanto, judeus e mouros convertidos ao catolicismo viraram alvos: depois, hindus, luteranos, hunguenotes, franco maçons, seitas místicas, bígamos, padres fornicadores, marinheiros sodomitas, homossexuais e bruxas.
O terror chegou ao fim nas primeiras décadas do século XIX, com a chegada do Iluminismo e das tropas de Napoleão. Mas não foi um fim sem reflexos. Green nos surpreende com sua conclusão: as divisões sociopolíticas que levaram aos regimes de franco e Salazar na Península ibérica seriam, em grande parte, legados da inquisição. Pois seu enorme alcance burocrático, chegando inclusive aos cantos mais longícuos da alma, foi precursor do estado totalitário de nossos tempos.
"Porque a Inquisição não foi nada menos do que a primeira semente dos governos totalitários e da institucionalização do abuso racial e sexual", analisa Green.

Toby Green nasceu em Londres, em 1974. Estudou Filosofia na Universidade Cambridge. Trabalhou como professor, agente literário e jornalista. É autor de biografias, críticas literárias. Livros de História e relatos literários de viagens. Seus livros já foram traduzidos para dez idiomas.

Comentário na revista Veja edição 2218 – 25 de maio de 2011, pág.136/137. 

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