quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Marcelo Cipis: entre o humor, o non sense e a inovação

Por Marina Vidigal - atualizada em 31/07/2014 09h43
Marcelo Cipis (Foto: Renato Stockler)
Paulistano nascido em 1959, Marcelo Cipis sempre gostou de desenhar. Na infância, passava horas com o irmão desenhando numa lousa que tinham em casa. Na vida adulta, atua como artista plástico, escritor e ilustrador e já lançou cerca de 20 livros para o público infantil. Em sua obra, a grande marca é a inovação. Prova disso é seu livro Superzeróis, recém-lançado pela Cosac Naify.
A obra, que apresenta uma liga de super-heróis desastrados, não é encadernada. As crianças podem “ler” as cartas estampadas por imagens na sequência inicialmente sugerida ou reordená-las conforme quiserem. Os leitores ainda podem soltar as cartas e encaixá-las umas nas outras, formando narrativas totalmente inusitadas, em versões tridimensionais. Por ocasião desse lançamento, a CRESCER conversou com o autor.

CRESCER: Como era sua relação com os livros e com o desenho durante a infância?
MARCELO CIPIS: Eu gostava muito da coleção O mundo da criança, também lia Monteiro Lobato e histórias em quadrinhos. Quanto ao desenho, era uma atividade que tomava grande parte do meu tempo. Eu e meu irmão tínhamos uma lousa em casa. Nós a dividíamos ao meio e passávamos horas desenhando, cada um em uma metade.

CRESCER: E como se deu a opção por uma carreira ligada às artes?
MC: Terminei o colégio e não sabia que carreira seguir. Acabei prestando vestibular para arquitetura e fui aprovado na FAU. O fato é que fiz o curso, mas nunca trabalhei na área. Aos 18 anos comecei a desenhar profissionalmente, ilustrando para jornais e revistas em parceria com meu irmão. Eu desenhava e ele coloria. Segui trabalhando com comunicação visual e depois de formado fui para Europa, onde decidi que trabalharia com artes plásticas. E assim aconteceu. Trabalho como artista plástico, como ilustrador e também como escritor. No meu ateliê, portanto, desenho, pinto, produzo minhas ilustrações e escrevo meus livros.
CRESCER: E seu ingresso na literatura, como aconteceu?
MC: Editei meu primeiro livro em 2002 – era uma compilação de ilustrações que vinha fazendo havia tempos para a coluna da Joyce Pascowitch na Folha de São Paulo. Lançado pela Ateliê Editorial, o livro se chama 530 gramas de ilustrações, em alusão a seu peso. Depois dessa obra, resolvi escrever meu primeiro título para o público infantil, uma narrativa sobre um autor que nunca conseguia terminar suas histórias. Assim nasceu Era uma vez um livro, lançado pela Companhia das Letrinhas. O livro foi escrito e ilustrador por mim mesmo e, nesse mesmo modelo, já publiquei cerca de 20 títulos. Além desses, já ilustrei alguns livros de terceiros.

CRESCER: Você está lançando, pela Cosac Naify, Superzeróis, um livro criativo e inovador não só no texto, mas também na forma. Como se deu a concepção dessa obra?
MC: O Superzeróis de fato inova. O livro é composto por páginas avulsas, que são como cartas e podem ser ordenadas e fixadas com um elástico, conforme a vontade das crianças. As páginas também podem ser encaixadas umas nas outras, dando forma a instalações diversas, como casas e castelos... Inicialmente, tinha pensado em fazer um livro convencional, impresso e encadernado, que apresentasse um superzerói numa página para, na página seguinte, revelar sua fraqueza. A ideia de criar um livro objeto veio da editora Cosac Naify. Adorei a sugestão, que sem dúvida potencializou o aspecto lúdico da obra. Além de oferecer ao leitor um leque de personagens protagonizando situações inusitadas, a obra faz as vezes de um brinquedo e, como tal, se revela um instrumento e tanto para as crianças exercitarem sua criatividade.

CRESCER: Essa fuga do convencional tão evidente em Superzeróis parece ser uma marca de todo seu trabalho. Você se considera um autor diferenciado nesse sentido?
MC: Minha obra de fato tem uma questão lúdica e criativa de romper limites e quebrar com regras. Isso marca meu trabalho não só na literatura, mas também na pintura e nas ilustrações. Procuro sempre navegar no desconhecido, inovar, realizar um trabalho de vanguarda. Na literatura, especificamente, tenho uma grande busca pelo humor, pelo non sense e pelo absurdo. Gosto de narrativas não lineares, que fogem do convencional e trazem imagens predominantes em relação ao texto. Para mim, a busca pelo novo é natural. Não consigo me ater ao convencional.

CRESCER: As crianças geralmente têm muita facilidade de acessar esse lado non sense e criativo, mas muitas vezes isso se perde na vida adulta. Que conselhos você daria para pais que desejam preservar esse lado em seus filhos?
MC: A criança deve ser incentivada a criar, a produzir arte, a elaborar imagens novas, a curtir literatura e artes visuais. Além do incentivo em casa e na escola, é interessante realizar cursos livres de expressão artística. Quando criança, fiz alguns cursos ligados a artes que me incentivaram muito em termos de criação artística, criatividade e expressão. A partir do momento em que você dá espaço para a criança se desenvolver nessa área, aquelas que realmente gostam de artes podem se aprofundar e até fazer disso uma profissão futuramente. Ou ainda aplicar em outras frentes conceitos dessa área.

Mais sobre o autor em: www.marcelocipis.com.br
fonte: http://revistacrescer.globo.com/Livros-pra-uma-Cuca-Bacana/noticia/2014/07/marcelo-cipis-entre-o-humor-o-non-sense-e-inovacao.html

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