terça-feira, 27 de novembro de 2012

Lya Luft lança o livro O trigre na sombra em Belo Horizonte

Lançamento será dentro da programação do projeto Sempre um papo

Gracie Santos - EM Cultura
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Adriana Franciosi/Divulgação
Sou uma pessoa discreta, pouco festiva, preciso ficar quieta, pensando, meditando para escrever. Meu narciso é pra dentro - Lya Luft, escritora

Dôda (Dolores) tem uma perna mais curta que a outra. E a rejeição começa logo dentro de casa. A mãe  despreza a filha que “anda tortinha,” prefere a mais velha, Dália (até o nome é mais bonito). Aposta que esta, sim, terá futuro. Mas Dôda não está totalmente abandonada; o pai tenta suprir a falta de afeto da mãe. E tem ainda Vovinha, sempre presente. Só que a trama leva a assinatura de Lya Luft, então, nada será simples assim. A vida não vai ser um mar de rosas para ninguém nessa história. Com Lya, os personagens são sofridos, os dramas intensos e tensos. Nem ela mesma sabe bem o por que disso. Não importa. O bom é que nos livros dela o leitor caminha (sem fôlego) em direção às profundezas da alma humana e, de tabela, para dentro de si mesmo.

Em O tigre na sombra, seu novo romance, a escritora preserva o que há de melhor em sua literatura: é poética na prosa e constrói frases curtas e profundas, o que permite que ela vá direto ao ponto. Dizer muito em tempo breve, com graça e sem afetação. São apenas 128 páginas para serem lidas de uma sentada, mas que ficarão reverberando muito tempo depois, já que os personagens provocam inevitáveis identificações. O livro será lançado hoje, às 19h30, no auditório da Cemig, com a presença de Lya Luft, convidada do projeto Sempre um papo.

“Sempre fui barroca para falar e lacônica para escrever. Um professor de mestrado disse que sou gentil com o leitor porque escrevo livros pequenos. Procuro ser simples, mas faço uma síntese sofisticada. Gosto de palavras, da linguagem, fico feliz quando estou escrevendo”, confessa Lya. Para a autora, cada palavra tem seu peso, mas nada é muito intencional, “tudo flui naturalmente.” Ela diz que na verdade, da mesma maneira que Dôda (e todo mundo), sente-se pelo menos duas. “Tenho um olho triste para escrever, outro alegre, que vive. Na minha vida pessoal, sou muito divertida. Mas também sou uma pessoa discreta, pouco festiva, preciso ficar quieta, pensando, meditando para escrever. Meu narciso é pra dentro”, afirma.
Adriana Franciosi/Divulgação
Sou uma pessoa discreta, pouco festiva, preciso ficar quieta, pensando, meditando para escrever. Meu narciso é pra dentro - Lya Luft, escritora

Os personagens de Lya não nascem prontos, vão se estruturando enquanto ganham vida. “Claro que mando no livro, posso criar o que quiser, matar... Mas há um momento em que tenho que escutar algo que vem do meu interior...” Se Dôda é diferente por ter uma perna mais curta, Lya Luft sabe bem o que é isso. “Tive um problema no quadril, que antes não me incomodava, agora incomoda. Sei como é chato ter uma coisa que limita você. Quando era menina, não brincava de boneca; quando adolescente, gostava de ler os clássicos gregos, alemães, nem o namoradinho sabia disso. Todos temos nossas diferenças”, analisa.

CONTOS DE FADA
E, afinal, todos temos um tigre na sombra, na nossa cola? “Claro, todos temos um inimigo à espreita, podem ser também a morte, os problemas, as dificuldades, o preconceito. Minha literatura sempre teve muita influência dos contos de fada. Tem o belo do sinistro”, revela a escritora, que, há muitos anos, sempre começa cada livro, mesmo que não seja ficção, com um poema. “Pra mim, a linha divisória entre poesia e prosa é muito tênue, sou bastante poética, uso muitas metáforas”, diz. E por que tantos personagens sofridos? “Não sei, minha vida nunca foi terrível. Tive uma infância feliz, com meus pais, uma casa alegre. Fiquei viúva muito cedo, tive casamentos com caras superlegais, filhos ótimos. Mas sempre fui fascinada pelo lado obscuro da vida”, confessa.

Lya Luft tem consciência de que Dôda acabou sendo personagem em defesa do diferente, contra preconceitos, mesmo que não tenha pretendido isso. “No fundo, somos todos iguais, temos nossa perna mais curta. E se formos conhecer histórias reais vamos ver casos até piores do que as ficções”, afirma. A volta ao romance (a ficção mais recente foram os contos de O silêncio dos amantes, de 2008, que ganhou montagem de sucesso no teatro), ela conta, não foi planejada. “Não sei, parece que o vento sopra quando quer. Nunca forço, não faço qualquer pressão. Tem que ter um pouco de fantasia, quero que a história me fascine por alguma razão qualquer”. Não por acaso, O tigre na sombra é um romance ao mesmo tempo impactante e fascinante.

COM TODAS AS LETRAS

Lya Luft começou sua carreira literária em 1980, aos 41 anos, com a publicação do romance As parceiras. Entre os destaques de sua obra, A asa esquerda do anjo (1981); O quarto fechado (1984); Exílio (1987); A sentinela (1994); O rio do meio (1996, Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes); O ponto cego (1999); Histórias do tempo (2000); Mar de dentro (2002); Perdas & ganhos (2003); Pensar é transgredir (2004); o volume de poesias Para não dizer adeus (2005) e O silêncio dos amantes (2008).Já verteu para o português obras de autores consagrados como Virginia Woolf, Günter Grass, Thomas Mann e Doris Lessing.

O tigre na sombra
Lançamento do livro de Lya Luft. HNesta terça-feira, às 19h30, com bate-papo com a autora, no projeto Sempre um Papo.
Auditório da Cemig, Av. Barbacena, 1.200, Santo Agostinho. Informações: (31) 3261-1501 e sempreumpapo.com.br 
http://www.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_7/2012/11/27/ficha_agitos/id_sessao=7&id_noticia=60798/ficha_agitos.shtml

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